quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Fogo para ler

Fogo

Como será, pois, se ardiam fogueiras no tempo em que uma chama uma esfera incandescente te encontrou criança vinda de um céu de tarde fosco queimou teu ventre e adquiriste essa marca aí ó, marca de fogo na carne tenra, o que é que se marca assim sem explicação que não você, chama acesa? escuta escuta o queimar das folhas secas, o cheiro de enxofre, o próprio inferno, isso de tudo se incendiar no meio do mundo no meio da noite, lúcifer enchendo de gasolina a terra, só viste os frutos vermelhos que pintavam a grama verdinha do terreno à frente a visão dos pontos vermelhos pegando no teu ventre queimando por dentro e por fora, mãe, vou chorar porque arde muito tua lágrima, cai rio abaixo, cai, e a água leva embora o choro, o sol ainda lá em cima, lembraste dos frutos vermelhinhos, pontinhos rubros no chão verde dos meninos dali? o preto Sorriso vindo expulsá-los do encantado paraíso, a lembrança está te queimando assim a marca no teu corpo volta a acender o tempo de novo de novo, não queres morrer amanhã feito James Dean de jaqueta vermelha queres virar semente na boca dos teus filhos, “usarão meu gorrinho vermelho de criança, pai”?, tu sussurras. Vovó que disse com o cachimbo fumegando dependurado do beiço educado a fumaça soprando as palavras “teu destino é de rio, criança, doce e calmo, passa sempre e não pára, Oxalá, nosso pai, te guie”, ele está indo, vó, mas corre na beira uma queimação das matas que não pode apagar, as labaredas altas lambendo os cabelos dos amores que ele gerou pra se consumir nas paredes do quarto, as salamandras listradas subindo pelas paredes, o amor que ele aprendeu é venenoso e quente, mais um pouco quer dar? Língua na língua o calor nas orelhas no pescoço o peito sem calma nenhuma mais, trovão e relâmpago quer adivinhar? Conta um dois e três até ouvir o estrondo aí vai saber da força do martelo de Deus-pai batendo contra as pedras. E São Pedro vai fazer chuva enfim pra acabar com o fogo do mundo? Os morcegos só vêm à noite deixaste a luz acesa não tenhas medo não vais ter medo olha para a luz vermelha te abrigando dos terrores noturnos, adormeces em vermelho, que sonhos fumegantes não teriam te envolvido te aquecido de luz pra despertar na brasa que te esquenta as têmporas dando a dor pesada e latejante, da cabeça ao dorso, como se levasses na costa a carranca negra de um boi morto no sertão cavalo da morte o quinto cavaleiro se chama fogo lambe seus chicotes sobre a cratera aberta teu olho vivo já não vê mais nada cego de luz o sol faz barulhos quando se choca nas calçadas infames do Rio de Janeiro, vê as ondas de calor ao fundo filtrando os meninos e as meninas que crescem a esmo tendo por testemunha o sol ou o deus-dará? serpente de fogo chinesa, que número sagrado lhe enunciaste com a tua língua bifurcada? um número forjado pelo deus coxo que se marcou a fogo na tua testa ainda pagã? Sente o cheiro de carne queimada, sente o fedor dessa carne queimada pela bomba? Sente a lava sobre Pompéia? Os fogos do terror sobre a Grécia? O cano da pistola fumegando ainda quente, o sangue ainda quente, o vermelho no asfalto ainda quente? Cupido fechou os olhos, que flecha ardente pode contra o fogo atiçado nas costas da beleza? Queima-lhe as pálpebras, os cachinhos louros, desmancha-lhe a pele clara, viu como é brincar com fogo? algum gás te subiu até as narinas, ficas tonto nos teus junhos de fumaça e frio cor de chumbo, deixas apenas a fogueira que arde subir e estalar chamando as estrelas, teu elemento ar acompanha e alimenta a vitoriosa combustão.

Fogo para ter: DOWNLOAD

Fogo dentro do ouvido

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