terça-feira, 25 de setembro de 2007

Para ler Untitled

Untitled

(Inspirado na artista plástica Cindy Sherman)

eu estou com fome agora parado testo poses me estendo no amontoado de coisas destroços guardados que serão destruídos talvez livros caixas não sei o que fazer a não ser sempre me lembrar de todo o valor irrisório das coisas e tudo pra dizer tudo por dizer aquilo que não posso me furtar de dizer o que não posso nunca dizer isso vem em qualquer hora imprópria nessa hora das coisas impossivelmente triviais porque isso é inapropriado o quanto não posso nunca dizer me assusta quero te dizer com calma quero dizer com uma calma quero dizer calma mas a palavra essa coisa me escorre pela boca sinto a saliva arrancando sua crosta espinhenta porque tudo isso é uma pedra bruta queria te dar a pedra bruta mas ela escorrega pela boca e o que chega aos seus ouvidos é uma viscosidade apenas que mancha os meus lábios o que é que não me sai da boca o que é que não me faz te tocar por dentro não posso tocar seu corpo eu toco a sua pele e tudo que é químico me comove mas eu sinto que é isso que me explora como um vício quando estou longe é que quero mais é que desejo mais como um cachorro que fuça o lixo fico tonto e violento sinto o perigo total de me esvair eu quero me esvair mas tenho medo de ficar oco eu tenho uma casca que toca a sua casca e isso é amor eu tenho uma crosta que roça nas suas costas e isso é amor eu tenho mãos e língua macias que tropeçam no seu sexo e isso é amor mas e o que eu tenho que me acontece em silêncio o que eu tenho que você não vê que você não ouve que não te toca que não fala que não é segredo não é verdade não tem cor alguma não destrói nem machuca mas não salva o que é isso que é sem idioma por que me sinto obsceno sujo o rosto coberto de lama os pés imundos de terra a fome vem da vontade de comer essa terra dos meus pés quatro da manhã quatro da manhã de um dia qualquer o hoje em que eu descobri o que sempre sei mas o que é essa pergunta sem palavra essa é a loucura essa é a loucura essa é a loucura eu sempre te ligo pra dizer isso mas o que é que não vem à boca o que é tão terrível e glorioso que não pode ser dito e digo tudo pra cobrir isso de acontecimentos e outros disfarces invulgares só pra sempre permanecer oculto e indissolúvel é algo que me destruiria algo que é o fim do mundo não sei nem eu sei o nome vontade eu tenho coragem eu tenho mas me falta a língua está dentro ou está fora está em mim ou em você está em algum lugar é um sim ou um não é um monstro não me deixe te matar não eu te quero com os volumes e o cheiro que você tem contudo não aconteça de me querer no tempo eu preciso desejar sozinho eu preciso não te tocar eu preciso me aproximar disso que é a tua ausência pesada e fulminante pra que quando nos teus braços eu sinta o medo de te perder eu quero ter o medo de ter perder não eu preciso te perder antes que eu mesmo me afaste de mim não estou te encantando estou me desencantando voltando à emoção dos materiais da concretude porque tudo que me cerca me emociona com sua placidez eterna e certa eu quero você sem movimento já disse não me deixe ser violento mais do que suas promessas eu não prometo eu sempre já fiz quando ouço seu sono que crueldade é te deixar dormindo apenas pra mim estou enfraquecendo porque isso me toma as forças e algumas funções do corpo experimento a autonomia de mim mesmo o que durará ainda até te encontrar preciso de você para não ser mais quando longe me devolve a mim mesmo como presente e tenho felicidade e isso não é amor mas eu tenho a madrugada inteira e eu penso em te ligar porque talvez na madrugada eu pudesse te dizer também me engano sempre nunca estive tão lúcido eu fecho os olhos quando te beijo digo que nem imagino e é disso que estou falando também é um átimo de zero é o zero absoluto quando abro os olhos passou-se uma era e eu sou outro e você também é o que se arriscou ali estou sendo alusivo porque nada é mais estável que isso a encarnação da flecha no coração é alusiva também iconografia disso que não há mais ultrapassa a carne pega é no osso eu estou crucificado eu sou um palhaço espúrio eu sou de plástico e tento te tocar essa película que nos envolve em separado e aniquila qualquer possibilidade de comunicação isso que não me deixa te dizer o que é assim diretamente e num único fonema num único nome simples o que eu tenho não posso dizer não tem nome sem nada a dizer te digo vagamente eu te amo

Untitled para ter: DOWNLOAD

Untitled dentro do ouvido

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